quinta-feira, 21 de março de 2013

Um pouco sobre o Barroco Mineiro

Igreja São Francisco de Assis - Ouro Preto - Minas Gerais


A religiosidade católica, o fascínio pelo ouro e o desejo de afirmação e autonomia, unidos num só sentimento, explicam, nos planos psicológico e social, a criação da arte em Minas.

A religiosidade veio de Portugal e era cheia de pompa: forma de reafirmação católica diante da força crescente do protestantismo na Europa e do reforço do absolutismo na monarquia lusitana. O fascínio pelo ouro dominava todas as cabeças – portuguesas, brasileiras e africanas – enquanto a vontade de ser autónoma era companhia inseparável daquela sedução.

A influência mútua desses três factores fez com que as manifestações artísticas das  minas fossem a imitação do barroco europeu, mas ao mesmo tempo a sua recriação original, autêntica e nacional. Além disso, as catas de ouro e diamante estavam afastadas e mesmo isoladas do litoral, que se limitava a copiar a metrópole de além-mar, e só essa circunstância proporcionou para si ambiente à improvisação, à invenção, à própria criação artística autónoma. Daí ter nascido em Minas, "a mais forte, mais farta e mais bela expressão de uma arte verdadeiramente brasileira".

Barroco mineiro é a denominação genérica dada às artes que floresceram em Minas no século XVIII, o século da mineração, quando o barroco já havia sido superado na Europa. Lá, predominou no século XVII, quando o estilo foi transplantado para o litoral do Brasil, como se vê nas igrejas e conventos da Bahia e Nordeste.

Para se entender esse movimento artístico mineiro e a própria alma de Minas, para não dizer do Brasil, o ensaísta Afonso Ávila, um dos mais importantes estudiosos do tema, chama a atenção para as diferenças entre o barroco  de modo geral,   e o antigo classicismo da Renascença: o estilo clássico representou o império das formas lineares, independentes, rígidas e bem definidas, enquanto no barroco prevaleciam maior liberdade, movimento, curvas, pinturas, noção de conjunto e uma certa indefinição das formas individuais.

O estilo ocorrido em Minas tem cinco aspectos principais: exuberância de decoração interna das igrejas; uso intenso da talha de diferentes cores, sobretudo o revestimento de ouro; crescente tendência à movimentação e encurvamento, primeiro da arquitectura interna das igrejas, depois da externa; realismo das esculturas e imagens; e presença simultânea de ornamentos religiosos e profanos.

No entanto, se as características gerais do barroco e as específicas do barroco mineiro denotam um estilo mais desenvolto e livre, como foi ele ao mesmo tempo, o estilo do absolutismo e da dominação colonial? Para Afonso Ávila, esta questão é "o desafio mais fascinante do barroco", no qual ele identifica um jogo entre duas forças: de um lado, o poder repressor, que usou da exuberância do estilo cheio de movimentos, cores e curvas para fascinar e assim subjugar o povo, e de outro a força dos desejos, sonhos e fantasias do próprio povo, que utilizou o barroco como forma criativa e apaixonada de expressá-lo:
« (...) o barroco soube encontrar, em meio aos fantasmas da Inquisição e do poder absoluto dos reis, a válvula de escape do jogo criativo» escreveu Afonso Ávila.


Therezinha Barreto de Figueiredo

Fonte: “Minas Colonial” – Editora Efecê S.A

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